Freio no STF: CCJ aprova proposta para limitar poder individual dos ministros

Freio no STF CCJ aprova proposta para limitar poder individual dos ministros

Em uma decisão que promete acirrar os ânimos entre os Poderes, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados deu aval, nesta segunda-feira (9), a uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que visa restringir a atuação individual dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). A medida, vista por alguns como uma tentativa de conter excessos e por outros como uma ameaça à independência do Judiciário, segue agora para apreciação do plenário da Casa.

A proposta, de autoria do deputado João Pires (PL-RS), altera o artigo 102 da Constituição Federal, estabelecendo que todas as decisões do STF, inclusive as liminares, sejam tomadas por no mínimo 6 dos 11 ministros da Corte. Atualmente, os magistrados têm autonomia para proferir decisões monocráticas, o que tem gerado controvérsias e acusações de ativismo judicial.

Durante a discussão na CCJ, deputados favoráveis à PEC argumentaram que a medida visa coibir abusos e garantir maior segurança jurídica, evitando que decisões individuais tenham impacto significativo na vida dos cidadãos e no funcionamento das instituições. O relator da proposta, deputado Fernando Marques (União-SP), destacou que “a sociedade não pode ficar refém de posicionamentos isolados e que não representam o entendimento majoritário da Corte”.

Por outro lado, parlamentares contrários à PEC alertaram para os riscos de interferência indevida no Judiciário e de enfraquecimento da capacidade do STF de agir prontamente em situações urgentes. A deputada Carla Zambelli (PL-SP) argumentou que “a independência dos ministros é fundamental para a garantia dos direitos individuais e para o equilíbrio entre os Poderes”.

A votação da PEC na CCJ ocorreu em meio a um clima de tensão entre o Legislativo e o Judiciário, com recentes embates envolvendo decisões polêmicas de ministros do Supremo. Um dos casos mais emblemáticos foi a suspensão da implementação do juiz de garantias pelo ministro Luiz Fux, que gerou críticas de parlamentares e suscitou debates sobre os limites da atuação individual dos magistrados.

Especialistas em Direito Constitucional divergem sobre a constitucionalidade e a adequação da proposta. Para o jurista Lenio Streck, “a PEC representa uma tentativa de corrigir distorções e evitar que decisões individuais se sobreponham ao entendimento colegiado da Corte”. Já a constitucionalista Vera Chemim alerta que “a medida pode enfraquecer a capacidade do STF de proteger direitos fundamentais e de atuar como guardião da Constituição”.

A aprovação da PEC na CCJ é apenas o primeiro passo de uma longa jornada. Para ser promulgada, a proposta ainda precisa ser aprovada em dois turnos no plenário da Câmara e do Senado, por no mínimo três quintos dos parlamentares. Além disso, é provável que a constitucionalidade da medida seja questionada no próprio Supremo Tribunal Federal, o que pode gerar novos embates entre os Poderes.

Enquanto o debate jurídico e político se acirra, a sociedade acompanha atentamente os desdobramentos dessa disputa. Para muitos cidadãos, o que está em jogo não é apenas o equilíbrio entre os Poderes, mas a própria capacidade das instituições de garantir a estabilidade democrática e a segurança jurídica do país.

O avanço da PEC na Câmara dos Deputados é mais um capítulo de uma longa história de tensões e disputas entre o Legislativo e o Judiciário. Cabe agora aos parlamentares, magistrados e à sociedade como um todo encontrar o delicado equilíbrio entre a necessária independência do Supremo Tribunal Federal e a legitimidade democrática das decisões que afetam a vida de todos os brasileiros.

Fonte: G1 – Política