A guerra às drogas no Brasil custou R$ 7,7 bilhões em 2023, afetando principalmente comunidades negras e periféricas, com um impacto social severo e encarceramento em massa. Esses recursos poderiam ter sido utilizados para construir quase mil escolas, evidenciando a necessidade de reavaliar as prioridades orçamentárias e melhorar a transparência na aplicação da Lei de Drogas.
A guerra às drogas representou um gasto exorbitante de R$ 7,7 bilhões em 2023. De acordo com um estudo do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC), esse montante foi dispendido por seis estados brasileiros na aplicação da Lei de Drogas (11.343/06). Essa quantia destaca uma estratégia controversa e, muitas vezes, ineficaz, com respostas ainda divergentes entre as unidades federativas.
Impacto financeiro nos estados
O impacto financeiro da guerra às drogas em 2023 foi amplamente sentido em seis estados brasileiros: Bahia, Distrito Federal, Pará, Rio de Janeiro, Santa Catarina e São Paulo. Juntos, esses estados investiram aproximadamente R$ 7,7 bilhões no combate ao tráfico e uso de drogas. Esse investimento está atrelado a diversos setores de segurança pública, incluindo as polícias Civil e Militar, o Sistema Penitenciário e o Sistema Socioeducativo, instituições chave na aplicação da Lei de Drogas (11.343/06).
O estudo do CESeC revelou que mais de R$ 4,5 bilhões desse montante foram destinados apenas à Polícia Militar e ao Sistema Penitenciário. Essa quantia expressiva levanta questões sobre a eficiência e a alocação dos recursos, considerando a necessidade de manter instalações, equipes e operações cotidianas que visam conter o tráfico.
Além disso, a análise ressaltou que uma quantia significativa de quase R$ 1 bilhão foi destinada ao Sistema Socioeducativo entre os estados, exceto em Santa Catarina, cujo sistema socioeducativo está integrado à Secretaria de Estado de Administração Prisional e Socioeducativa. Estes gastos refletem principalmente em ações para controlar a liberdade de adolescentes envolvidos em infrações relacionadas às drogas.
Esses números não apenas destacam o custo exorbitante desta estratégia, mas também geram debates acerca das prioridades orçamentárias do estado. Com investimentos tão altos, surge a discussão sobre a possível redirecionamento desses recursos para iniciativas preventivas ou mesmo para áreas carentes do serviço público, como saúde e educação, que poderiam receber uma infusão orçamentária resultando em benefícios sociais amplamente maiores.
Transparência e desafios
A questão da transparência nos custos relacionados à guerra às drogas permaneceu um desafio significativo em 2023. O estudo conduzido pelo CESeC destacou que estimar o custo exato da implementação da Lei de Drogas é dificultado por uma falta de clareza nas informações fornecidas por algumas das instituições mais envolvidas nesse processo, particularmente as polícias militares.
Exemplo disso é a prática das polícias de registrar apenas ações que resultam em apreensão de entorpecentes. Esse procedimento, muitas vezes, ignora os custos e as operações rotineiras de patrulhamento e revista que não culminam em apreensões, deixando um vazio informacional crítico para um entendimento completo dos gastos totais. Isso compromete uma avaliação precisa sobre quanto se realmente gasta e se há retorno dessas operações.
Ainda mais problemático do que à questão financeira, a falta de transparência impacta também a responsabilização legal e social. Sem dados claros, auditorias independentes e análises profundas tornam-se complicadas, impossibilitando uma avaliação adequada da eficácia da aplicação da lei. Além disso, a falta de relatórios detalhados impede as comunidades de entenderem qual o impacto real dessa alocação orçamentária e se estão sendo atendidas as suas necessidades.
Dentro desse contexto de desafios, a guerra às drogas se apresenta como um obstáculo não apenas financeiro, mas também social, levantando questões sobre a justiça e o tratamento de determinados grupos sociais. Efetuar melhorias nessa área requer um comprometimento contínuo das unidades federativas com políticas de maior transparência, que incluam a divulgação frequente e detalhada dos gastos operacionais, resultados atingidos e decisões estratégicas, buscando sempre um maior retorno para a sociedade.
Efeitos sociais e educação
Os efeitos sociais da guerra às drogas têm sido devastadores, com impacto profundo em diversos grupos da sociedade, especialmente nas comunidades negras e periféricas. Além do ônus econômico, essa política tem acarretado consequências de longo alcance sobre a vida cotidiana, desde encarceramento em massa até barreiras à educação.
O estudo evidencia que aproximadamente 40% dos jovens que cumprem medidas socioeducativas, em estados como Rio de Janeiro e São Paulo, o fazem por infrações correlacionadas à Lei de Drogas. Isso sublinha um ciclo vicioso de exclusão social: ao serem privados de liberdade, esses jovens enfrentam dificuldades acrescidas no acesso à educação e desenvolvimento, o que pode determinar o futuro dessas gerações.
A mal utilização de recursos que poderiam ser investidos em educação constitui outra face alarmante desta política. De acordo com a pesquisa, com os R$ 7,7 bilhões gastos no ano, seria possível construir quase mil novas escolas públicas. Isso ilustra como a destinação alternativa desses recursos poderia transformar a sociedade ao oferecer melhores perspectivas educacionais e de vida para milhares de jovens.
Portanto, enquanto a guerra às drogas continua a sugar recursos vitais dos serviços essenciais, a pressão sobre os sistemas educacionais e sociais aumenta. É precário o equilíbrio entre segurança e inclusão social, sendo urgente repensar as políticas públicas, revertendo parte significativa deste orçamento em educação e oportunidades, criando uma base mais sólida para o futuro da juventude no Brasil.
FAQ – Impactos da Guerra às Drogas no Brasil
Quanto foi gasto na guerra às drogas em 2023?
Foram gastos cerca de R$ 7,7 bilhões em 2023 em seis estados brasileiros na guerra às drogas.
Quais estados brasileiros participaram do estudo sobre a guerra às drogas?
Bahia, Distrito Federal, Pará, Rio de Janeiro, Santa Catarina e São Paulo participaram do estudo.
Qual é a principal crítica à falta de transparência nos gastos?
A falta de registros adequados, especialmente por parte das polícias militares, impede uma avaliação precisa dos custos e eficácia das operações.
Qual o impacto social da guerra às drogas nas comunidades?
Impacta negativamente, especialmente comunidades negras e periféricas, devido ao encarceramento em massa e restrições educacionais.
Como os recursos gastos poderiam ter sido utilizados na educação?
Com os R$ 7,7 bilhões, poderia-se construir quase mil novas escolas públicas.
Qual a porcentagem de jovens em medidas socioeducativas por infrações de drogas?
Em estados como Rio de Janeiro e São Paulo, cerca de 40% dos jovens em medidas socioeducativas estão envolvidos por infrações relacionadas à Lei de Drogas.
Fonte: https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/guerra-as-drogas-consumiu-r-77-bilhoes-em-2023-diz-estudo/