A Polícia Civil do Rio de Janeiro deflagrou uma mega operação no Complexo de Israel, um conjunto de comunidades dominadas pelo tráfico de drogas na Zona Norte da cidade. O principal alvo da ação, batizada de “Operação Êxodo”, é Álvaro Malaquias Santa Rosa, conhecido como Peixão, apontado como chefe do Terceiro Comando Puro na região.
Nas primeiras horas da manhã, agentes de diversas delegacias especializadas, fortemente armados e com o apoio de veículos blindados, invadiram as ruelas e becos do complexo. O objetivo era cumprir 15 mandados de prisão e oito de busca e apreensão contra integrantes da quadrilha liderada por Peixão.
O traficante, que acumula 35 anotações criminais em sua ficha, já foi investigado, indiciado e denunciado diversas vezes, mas sempre conseguiu escapar das garras da justiça. Desta vez, os policiais chegaram a dois imóveis luxuosos ligados a ele, sendo que um deles conta até com um lago artificial. No entanto, o criminoso mais uma vez demonstrou sua astúcia e conseguiu fugir antes da chegada das autoridades.
Apesar da frustração de não capturar o líder do tráfico, a operação resultou na prisão de oito pessoas, consideradas peças-chave na estrutura da organização criminosa. “Conseguimos prender pessoas importantes que fazem parte, inclusive como braço de guerra dessa organização criminosa. Até o fim do dia e nos próximos dias, estaremos no encalço dele”, afirmou o delegado Fábio Asty, titular da Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas (DRFC).
Um dos focos da ação foi uma quadrilha especializada em roubo de cargas, que age sob as ordens de Peixão. Durante a troca de tiros entre policiais e traficantes, a circulação dos trens no ramal Saracuruna precisou ser interrompida, só sendo normalizada quando os confrontos diminuíram de intensidade. Por segurança, duas unidades de saúde fecharam as portas e uma Clínica da Família suspendeu suas atividades externas.
Quatro criminosos que tentaram escapar do cerco policial acabaram presos por PMs do 16º BPM (Olaria) em um motel às margens da Avenida Brasil. “Fizemos o cerco e tivemos a informação de que elementos do tráfico de drogas oriundos de Parada de Lucas estariam homiziados no motel. Determinei as equipes para fazerem buscas no local e identificamos quatro elementos no estabelecimento. Um deles era, inclusive, do Estado da Bahia. Eles estavam com três meninas também, uma delas menor”, relatou o tenente-coronel Bruno Schorcht.
O Complexo de Israel, que abrange as comunidades de Cidade Alta, Vigário Geral, Parada de Lucas, Cinco Bocas e Pica-Pau, foi “batizado” por Peixão durante a pandemia de Covid-19, em 2020. O traficante ordenou que a estrela de Davi, um símbolo judaico utilizado por algumas vertentes evangélicas, fosse espalhada pela área sob seu domínio, e ainda determinou a expulsão de seguidores de religiões de matriz africana.
Um relatório da Polícia Civil descreve Peixão como um criminoso de alta periculosidade, acusado de ser o mandante de homicídios, torturas, invasões armadas a imóveis e regiões dominadas por facções rivais. Além disso, ele é apontado como o responsável por montar e administrar toda a estrutura de cobrança de aluguéis e taxas de funcionamento de comércios e serviços no Complexo de Israel.
A operação desta terça-feira demonstra a determinação das forças de segurança em combater o crime organizado e levar à justiça os líderes do tráfico que aterrorizam as comunidades do Rio de Janeiro. A caçada a Peixão pode ter sofrido um revés, mas as autoridades prometem não desistir até que ele seja capturado e pague por seus crimes.
Enquanto isso, os moradores do Complexo de Israel seguem vivendo sob o jugo da criminalidade, reféns da violência e do medo impostos pelos traficantes. A esperança é que operações como essa sejam cada vez mais frequentes e efetivas, trazendo um pouco de paz e segurança para essas comunidades tão castigadas pelo crime organizado.
Fonte: G1 Rio de Janeiro