A Polícia Federal deflagrou uma operação de grande magnitude para desvendar os responsáveis por um incêndio devastador que consumiu mais de 6,5 mil hectares do Pantanal, em Corumbá, Mato Grosso do Sul. As investigações apontam para uma família de pecuaristas que explora ilegalmente a região, utilizando o fogo como uma ferramenta para o manejo de gado.
Seis membros da família foram alvo de mandados de busca e apreensão, enquanto um sétimo integrante, já preso preventivamente por outro crime, também está sob investigação. Durante as buscas, um dos suspeitos foi preso em flagrante por posse ilegal de arma de fogo, e outro foi conduzido à delegacia para prestar esclarecimentos.
A operação, batizada de “São João”, revelou que a família, liderada pelo patriarca Carlos Augusto Borges Martins, conhecido como “Carlinhos Boi”, é acusada de atear fogo propositalmente em uma área de propriedade da União. O objetivo seria eliminar a mata seca acumulada, que não é consumida pelo gado, e proporcionar o crescimento de vegetação nova para alimentar os animais.
As chamas começaram a se alastrar em 1º de junho e ganharam força durante as festas de São João, nos dias 21 e 23 do mesmo mês. O fogo se espalhou por áreas de proteção permanente do Rio Paraguai e terras devolutas, causando um estrago estimado em mais de 30 mil hectares, quando somadas as queimadas em território boliviano.
A investigação da Polícia Federal não se limitou apenas ao incêndio criminoso. Durante as apurações, foram encontrados indícios de outros crimes, como o uso ilegal de terras da União para a criação de gado, a suspeita de contrabando de bois da Bolívia e até mesmo a manutenção de um trabalhador em condições análogas à escravidão.
Uma denúncia anônima apontou o filho de “Carlinhos Boi”, conhecido como “Capim”, como o responsável por colocar fogo nas margens do Rio Paraguai. A partir daí, a teia de irregularidades envolvendo a família começou a ser desvendada. Além de “Capim” e “Carlinhos Boi”, outros cinco filhos do patriarca também estão sob investigação.
As suspeitas se fortaleceram quando um laudo pericial de imagens de satélite detectou uma grande desproporcionalidade entre o número de bovinos registrados em nome de “Carlinhos Boi” e a extensão de sua propriedade. Isso indica que a família estaria utilizando áreas públicas além dos limites de sua fazenda para a criação de gado, inclusive com suspeitas de contrabando de animais da Bolívia.
Testemunhas ouvidas pela polícia relataram que os investigados ateavam fogo regularmente para eliminar a vegetação alta, facilitar a visualização do gado e manter áreas de pastagem. Uma prática criminosa que coloca em risco a biodiversidade do Pantanal, considerado uma das maiores planícies alagáveis do mundo e lar de inúmeras espécies de flora e fauna.
A operação “São João” expõe a ganância e a falta de respeito com o meio ambiente por parte daqueles que exploram ilegalmente as riquezas naturais do Pantanal. O uso indiscriminado do fogo como ferramenta de manejo de gado demonstra um descaso com as consequências devastadoras que essa prática pode ter sobre o ecossistema local.
A Polícia Federal e os órgãos ambientais competentes têm um papel fundamental na proteção do Pantanal e na punição dos responsáveis por crimes ambientais. A prisão dos envolvidos e a responsabilização da família acusada de atear fogo na região são passos importantes para coibir essa prática criminosa e preservar esse patrimônio natural único.
O Pantanal, com sua exuberante biodiversidade e beleza incomparável, clama por justiça. A sociedade deve se unir em prol da preservação desse tesouro natural, exigindo medidas rigorosas contra aqueles que ameaçam sua integridade. Só assim poderemos garantir que as futuras gerações tenham a oportunidade de contemplar e se encantar com as maravilhas do Pantanal.
Fonte: G1 Mato Grosso do Sul